Não sou única, sou várias e incontáveis.
E das partes que sou, todas me completam. Inteiro-me, ainda
que me fragmentem, para ter o prazer de juntar depois os pedaços espalhados, dos
quais me fazem ir a lugares, vidas, mundos diferentes.
Multiplico-me a partir da divisão de mim mesma para poder me
compor, quem sabe me recompor nas entranhas dos sentidos.
Dizem que eu me humanizo a partir das lágrimas corridas pela face
marcada pelo tempo de quem eu leio, por dentro. Disso, além, vou mais: minha humanização
está nas mãos que estendo, enxugando rostos umedecidos, sofridos, de uma
leitura de gente que padece por existir, mas que existe mesmo assim;
contrariando os desejos insanos dos déspotas.
Sei chegar e sei partir, porém fico - ainda - nos lugares que
não me faço mais presente. Pois, sou vento forte que intimida, e brisa fresca
que agrada. Tudo vai depender do momento.
Questiono respostas de perguntas das quais nunca foram
feitas, por medo, timidez ou desuso de mentes compradas pela preguiça de
pensar.
Jogo fora os rótulos, queimo patentes fabricadas pelos deslumbres dos
egoístas e atravesso o individualismo. Porque há um alto grau de crueldade em
fechar os olhos e ser indiferente às dores alheias.
Mas ninguém é cruel além do outro!
É bem mais prático transferir titularidade que assumir o lado
feio, quem sabe, perverso de si mesmo. Daí, o mundo gira - em corda bamba - em
torno de uns e deságua em outros, detentores do poder; tanto mais, o rio
afluente da gente fica sem saber pra onde correr.
E assim, nessas presumíveis abundâncias das várias e incontáveis
de quem sou, enfrento a tristeza, ponho a chuteira e ganho a lide:
Porque viver é saber perder, superar e vencer.
--- Gil Buena ---
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